O regresso difícil

O despertador já não toca às 5h30 da manhã há 22 dias. Que alívio! Posso dormir mais umas horas. Mas quando acordo tudo é diferente: não preciso tomar banho logo de manhã, não preciso vestir roupa adequada ao escritório, arranjar o cabelo ou pensar em acessórios para combinar… nem sequer preciso de maquilhagem para disfarçar as olheiras e a cara de “dormia mais 3 ou 4 horas”! Não preciso preocupar-me com a marmita do dia e muito menos de pensar se tenho o passe na mala. Melhor… não preciso de fazer nada a correr para não perder o autocarro. Porque não há autocarro para apanhar! Posso simplesmente acordar meia hora antes de começar a trabalhar e é porque gosto (e preciso) de tomar o pequeno-almoço e beber o meu café antes de tudo. Mudança radical de rotina, de método de trabalho, de organização, de concentração… caramba, estamos no meio de uma pandemia! Estamos de quarentena! O País está em estado de emergência! Nunca, em 38 anos de vida, imaginei viver algo assim: de repente estar confinada, dentro de casa, com os meus filhos e marido, 24 horas por dia. E ainda por cima em teletrabalho! Se me contassem que isto ia acontecer eu não iria acreditar.

Este foi o texto que comecei a escrever umas semanas depois de entramos em quarentena (inicio de abril, mais ou menos) e que ficou parado, no papel, até agora. Sim, eu ainda escrevo em papel! E pensei mesmo que não fazia sentido publicar… Não era bem com este tema que eu queria voltar ao blogue, mas cada vez que há planos sai tudo furado. São muitos fatores contra que começaram com a avaria do meu computador (fez 1 ano em junho) onde já tinha imensas coisas alinhavadas: seleção de templates para renovar o blogue, nova rúbrica/colaboração, e até já tinha textos para partilhar convosco os preparativos do casório que se realizou em setembro de 2019. Muito trabalhinho que foi pelo cano. Ou melhor: pelo disco! Depois, com os gastos e afazeres do casamento, não nos foi possível investir num novo computador – porque aquele morreu mesmo. Entretanto também a vida deu algumas voltas cá por casa e pela família. O ano de 2019 não acabou em grande, depois fui operada no inicio de janeiro e, quando pensávamos que tudo se estava a recompor, eis que surge um vírus, emigrado lá da China town e dá mais umas quantas voltas às vidinhas destes seres mega normais. O resto vocês já sabem: quarentena, teletrabalho, aulas on-line (ou telescola, como preferirem), layoff, rotinas estranhas, ninguém na rua, caos para fazer compras. (…) 

Entretanto acabou o estado de emergência, acabaram as aulas, começou o Verão, a vida como a conhecíamos não voltou na sua plenitude, por muito que tentássemos (e parece estar muito longe disso) … E eu voltei a não terminar ou publicar o texto. Mas também não foi preciso porque o ano de 2020 ainda não terminou e está quase em modo repeat. Por isso não vou retomar a “história”, receando que a cassete fique viciada.